Teoria U: o que é e como funciona na prática?

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Teoria U
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Imagine que você está tentando resolver um problema complexo na sua empresa ou na sua vida pessoal. Você já tentou diferentes abordagens, mas nada parece realmente funcionar. Talvez o que falte não seja mais esforço ou mais soluções, mas sim uma nova forma de enxergar o problema. É aqui que a Teoria U, criada por Otto Scharmer, pode fazer toda a diferença.

A Teoria U é uma abordagem que ajuda pessoas e organizações a enfrentarem desafios de maneira mais consciente e conectada com o que realmente importa. Em vez de buscar respostas rápidas e superficiais, a Teoria U nos convida a desacelerar e a olhar mais profundamente para a situação.

Ela nos ensina a escutar com atenção, a refletir sobre nossas próprias percepções e a co-criar soluções que realmente façam sentido para o futuro que queremos construir.

Quer saber mais sobre a Teoria U? Então fique aqui que eu te explico tudo sobre ela! Confira!

O que é a Teoria U?

A Teoria U é uma abordagem de liderança e mudança que foi desenvolvida por Otto Scharmer, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology). Ela é chamada de “Teoria U” por causa do formato do processo que propõe, que se assemelha à letra “U”. 

Mas o que isso significa na prática?

Imagine que você está diante de um desafio ou problema. A Teoria U sugere que, em vez de seguir o caminho mais direto e buscar uma solução imediata, é preciso “descer” o U para explorar o problema de forma mais profunda.

Esse processo de descida envolve uma série de etapas que ajudam a desacelerar, escutar diferentes perspectivas e refletir sobre o que realmente está acontecendo.

Quando você chega ao fundo do U, atinge um ponto de presença plena, onde está totalmente conectado com o que é essencial. A partir desse ponto, começa a “subida” do U, onde novas ideias, insights e soluções emergem de forma natural e alinhada com as necessidades reais da situação.

A ideia é que esse “movimento em U” nos ajuda a acessar diferentes níveis de percepção e a enxergar as situações por outros ângulos. Não se trata apenas de resolver problemas de forma prática, mas também de criar uma visão mais clara e profunda do futuro, permitindo que as decisões sejam tomadas de forma mais consciente.

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As etapas

A Teoria U é composta por cinco etapas principais, que formam o “movimento em U”. Cada uma dessas etapas é essencial para o processo de transformação proposto por Otto Scharmer.

A seguir eu te explico cada uma delas:

1- Co-iniciar: escutando o campo

A primeira etapa da Teoria U é chamada de Co-iniciar. Aqui, o foco está na escuta profunda e na criação de um campo comum de entendimento. É o momento de reunir as pessoas envolvidas e começar a ouvir não apenas as palavras, mas também as intenções, emoções e percepções que cada um traz consigo.

Nessa fase, é fundamental abrir mão de preconceitos e julgamentos, permitindo que novas perspectivas emergem. A escuta ativa é crucial, pois é por meio dela que se começa a perceber as verdadeiras necessidades e desafios do contexto em que se está inserido.

O objetivo é criar um ambiente onde todos se sintam à vontade para compartilhar suas ideias e onde se possa começar a enxergar o problema ou a oportunidade de maneira mais ampla.

Leia também: Tutorial: como fazer Brainstorming passo a passo

2- Co-sentir: explorando o campo

Após a fase de escuta, vem a etapa de Co-sentir, que é uma imersão profunda no contexto em que o problema ou a oportunidade está inserido. Aqui, as pessoas envolvidas começam a “descer” na curva do U, conectando-se com o sistema como um todo.

Esse é o momento de explorar e vivenciar a realidade de diferentes perspectivas, permitindo que novas percepções e sentimentos venham à tona.

Em vez de analisar o problema à distância, a ideia é se aproximar ao máximo da situação, compreendendo as nuances e as complexidades que não eram evidentes anteriormente.

É uma fase de empatia e conexão profunda com o contexto, onde se começa a sentir o que realmente está em jogo.

3- Presencing: conectando-se com o futuro que emerge

No ponto mais baixo do U está a fase de Presencing. Este é o momento mais introspectivo da Teoria U, onde ocorre uma pausa para se conectar com a fonte mais profunda de conhecimento e inspiração.

Aqui, o foco é estar presente no momento, permitindo que novas ideias e insights surjam de um lugar mais autêntico e alinhado com o futuro que deseja criar.

A palavra “Presencing” é uma combinação de “presença” e “sensing” (sentir), e reflete a ideia de estar totalmente presente e consciente, ao mesmo tempo em que se sente o que está emergindo.

Nesse estágio, a equipe ou o indivíduo se conecta com a sua intuição e sabedoria interna, muitas vezes encontrando respostas que não são acessíveis através da lógica ou da análise tradicional.

4. Co-criar: prototipando o novo

Depois de se conectar profundamente com o que realmente importa, chega o momento de começar a Co-criar. Aqui, as ideias e insights obtidos durante as etapas anteriores começam a se transformar em ações concretas. Essa fase é caracterizada pela experimentação e pela prototipagem de novas soluções.

O conceito de prototipagem na Teoria U é fundamental, pois permite testar rapidamente novas ideias em um ambiente controlado, aprender com os erros e fazer os ajustes necessários. É uma fase de aprendizado contínuo, onde as soluções são refinadas com base no feedback e na observação de como elas funcionam na prática.

A co-criação envolve a colaboração de todos os envolvidos, garantindo que as soluções sejam relevantes e eficazes.

5- Co-evoluir: implementando e ajustando

A última etapa da Teoria U é a Co-evoluir, que foca na implementação das soluções desenvolvidas e no seu ajuste contínuo. Depois de prototipar e refinar as ideias, é hora de colocá-las em prática em uma escala maior, mas sem perder a capacidade de adaptação.

Nesse estágio, é essencial manter o espírito de colaboração e aprendizado que guiou as etapas anteriores. As soluções são implementadas, mas o processo não termina aí. A ideia é que a evolução continue, com ajustes e melhorias sendo feitos conforme novas realidades e desafios surgem.

Essa fase final garante que o processo de mudança seja sustentável e alinhado com as necessidades emergentes do contexto.

Como funciona a Teoria U na prática?

Agora que entendemos as etapas teóricas da Teoria U, é importante explorar como essa abordagem pode ser aplicada na prática. A seguir, veremos exemplos de como cada etapa pode ser vivida no cotidiano de uma organização ou em projetos pessoais.

1- Co-iniciar: começando com escuta ativa

Imagine que uma equipe de uma empresa está enfrentando um problema recorrente de falta de comunicação entre departamentos. Na prática, o primeiro passo da Teoria U seria reunir os líderes e membros das equipes envolvidas para uma série de reuniões onde todos possam falar e ser ouvidos.

Nessas reuniões, a escuta ativa é fundamental. Cada pessoa deve ter a chance de compartilhar sua visão do problema sem ser interrompida ou julgada.

Aqui, a ideia não é encontrar uma solução imediata, mas sim entender profundamente o que está acontecendo. Ferramentas como círculos de diálogo ou dinâmicas de escuta ativa podem ser utilizadas para garantir que todos tenham voz.

2- Co-sentir: imersão no contexto

Após as reuniões iniciais, a equipe pode passar para uma fase de imersão, onde cada membro se coloca no lugar dos outros para entender suas dificuldades e perspectivas.

Um exemplo prático seria fazer com que membros de diferentes departamentos troquem de função por um dia ou acompanhem o trabalho dos colegas para entender os desafios que enfrentam.

Essa imersão ajuda a criar empatia e a visualizar o problema de maneira mais holística. Na prática, essa etapa pode incluir entrevistas, visitas a outras áreas da empresa ou até mesmo atividades fora do escritório, como workshops imersivos, que ajudem todos a sentir e entender o contexto mais amplamente.

3- Presencing: encontrando o momento de clareza

Na fase de Presencing, a equipe deve se retirar para um momento de reflexão profunda, deixando de lado a pressão por resultados imediatos.

Na prática, isso pode ser feito por meio de um retiro estratégico, onde os membros da equipe se desconectam das tarefas diárias e focam em refletir sobre o que realmente importa para o futuro da organização.

Durante esse retiro, atividades como meditação, caminhadas na natureza ou dinâmicas de grupo que estimulem a criatividade e a intuição são essenciais.

O objetivo é acessar uma sabedoria interna, onde novas ideias e insights podem emergir naturalmente, sem a interferência das pressões do cotidiano.

4- Co-criar: experimentando novas soluções

Depois de obter novos insights, é hora de colocar as ideias em prática por meio da co-criação.

No ambiente corporativo, isso pode significar a criação de pequenos projetos-piloto que testem as novas soluções em uma escala menor antes de uma implementação completa.

Por exemplo, se a equipe percebeu que a comunicação entre departamentos precisa ser melhorada, eles poderiam prototipar um novo sistema de reuniões interdepartamentais ou uma nova ferramenta de comunicação interna.

A chave aqui é experimentar, aprender com os erros e ajustar as soluções conforme necessário. Esses pilotos devem ser curtos, ágeis e com espaço para feedback contínuo.

5- Co-evoluir: implementando e adaptando

Finalmente, na fase de Co-evoluir, as soluções que funcionaram nos pilotos são implementadas em larga escala, mas sempre com a disposição para ajustes contínuos. Na prática, isso significa que a empresa deve criar um ambiente onde o aprendizado contínuo é incentivado e as mudanças podem ser feitas conforme necessário.

Por exemplo, se o novo sistema de comunicação foi bem-sucedido em melhorar a colaboração entre departamentos, ele pode ser implementado em toda a empresa.

No entanto, deve-se manter uma rotina de revisões e ajustes para garantir que o sistema continue a atender às necessidades da organização à medida que ela evolui.

Objetivos da teoria de Otto Scharmer

A Teoria U, desenvolvida por Otto Scharmer tem objetivos específicos que visam transformar a forma como indivíduos e organizações pensam, sentem e agem diante de desafios complexos. 

Falo um pouco sobre eles a seguir:

1- Promover uma mudança profunda de consciência

Um dos principais objetivos da Teoria U é ajudar as pessoas a mudarem sua forma de enxergar o mundo e os problemas que enfrentam.

Em vez de reagir automaticamente às situações com base em experiências passadas, a teoria incentiva um estado de presença profunda, onde é possível se conectar com novas possibilidades e com o futuro que está emergindo.

Esse objetivo visa ir além da simples solução de problemas imediatos. A ideia é que, ao acessar um nível mais profundo de consciência, líderes e equipes possam criar soluções mais inovadoras e alinhadas com as verdadeiras necessidades do momento.

2- Facilitar a inovação coletiva

Outro objetivo central da Teoria U é facilitar a inovação, mas de uma forma que seja realmente colaborativa. 

A teoria acredita que as melhores ideias surgem quando as pessoas trabalham juntas de maneira aberta e conectada. 

Ao passar pelas etapas do processo em U, as equipes são incentivadas a escutar uns aos outros, a co-criar e a prototipar soluções de forma colaborativa.

Isso significa que a inovação não é vista como resultado de um único gênio, mas como um processo que emerge da interação entre diferentes perspectivas e experiências. Esse objetivo é fundamental para organizações que buscam soluções criativas e eficazes para problemas complexos.

3- Criar soluções sustentáveis e alinhadas com o futuro

A Teoria U também busca garantir que as soluções desenvolvidas sejam sustentáveis e alinhadas com o futuro. Isso significa que, em vez de implementar respostas rápidas que podem resolver problemas temporários, a teoria incentiva a criação de soluções que estejam em harmonia com o que realmente importa a longo prazo.

O objetivo aqui é evitar soluções superficiais que podem trazer resultados imediatos, mas que não se sustentam com o tempo.

Ao seguir o processo em U, as pessoas são encorajadas a olhar para o futuro e a co-criar soluções que sejam duradouras e que contribuam para o bem-estar geral da organização ou da sociedade.

4- Fomentar o aprendizado contínuo

Por fim, a Teoria U tem como objetivo promover um ambiente de aprendizado contínuo. A ideia é que o processo de mudança não termine com a implementação de uma solução, mas sim continue à medida que novas informações, desafios e oportunidades surgem.

Isso garante que as organizações e indivíduos estejam sempre adaptando e melhorando suas práticas.

Esse objetivo é crucial em um mundo em constante mudança, onde o aprendizado e a adaptação são necessários para permanecer relevante e eficaz. A Teoria U, portanto, não é um processo estático, mas sim um ciclo contínuo de evolução e crescimento.

Case de sucesso na Nike

A Nike, uma das maiores empresas de artigos esportivos do mundo, enfrentou um momento de introspecção e reavaliação de seus valores e práticas há alguns anos. Na época, a empresa estava sendo criticada por suas práticas trabalhistas em fábricas de países em desenvolvimento, o que afetava negativamente sua imagem pública.

Dessa forma, a gigante Nike precisava não só melhorar suas práticas de responsabilidade social, mas também reconstruir sua reputação e criar um impacto positivo no mundo.

Era necessário um novo olhar para seus processos, práticas e valores.

Por meio da Teoria U eles desenvolveram a seguinte história de sucesso:

1- Co-iniciar

A Nike começou o processo reunindo líderes, funcionários e stakeholders para entender profundamente as críticas e preocupações.

Em vez de simplesmente reagir às críticas, a empresa optou por escutar ativamente todas as partes envolvidas, incluindo ONGs, clientes e os próprios trabalhadores das fábricas.

Esse foi o momento de abrir espaço para novas perspectivas e começar a entender o problema de maneira mais ampla.

2- Co-sentir

Para realmente entender as condições nas fábricas e o impacto de suas práticas, os líderes da Nike se envolveram diretamente com as comunidades afetadas.

Eles visitaram as fábricas, conversaram com os trabalhadores e se imergiram nas realidades que estavam causando as críticas.

Esse contato direto com a situação ajudou a empresa a sentir o problema em um nível mais profundo e a desenvolver empatia pelas pessoas envolvidas.

3- Presencing

Após essa imersão, a Nike entrou em um período de reflexão profunda, buscando novas maneiras de alinhar seus valores corporativos com suas práticas.

Foi um momento crucial onde a empresa se desconectou das respostas automáticas e começou a explorar como poderia realmente fazer a diferença.

Essa fase de “Presencing” levou a Nike a se reconectar com sua missão de inspiração e inovação para todos os atletas, incluindo aqueles que fabricam seus produtos.

4- Co-criar

A partir das novas percepções, a Nike começou a co-criar soluções inovadoras para melhorar suas práticas trabalhistas.

Um dos passos mais significativos foi a implementação de um código de conduta rigoroso para suas fábricas parceiras, garantindo melhores condições de trabalho.

A empresa também iniciou parcerias com organizações de direitos humanos para monitorar o progresso e fazer ajustes conforme necessário. Eles prototiparam essas soluções em algumas fábricas antes de expandi-las globalmente.

5- Co-evoluir

Com as novas práticas em vigor, a Nike continuou a monitorar e ajustar suas abordagens para garantir que elas fossem eficazes e sustentáveis. O compromisso da empresa com a melhoria contínua foi crucial para reconstruir sua reputação e criar um impacto positivo duradouro.

A aplicação da Teoria U ajudou a Nike a transformar uma crise de reputação em uma oportunidade para liderar com responsabilidade social.

A empresa não só melhorou as condições de trabalho em suas fábricas, mas também se posicionou como um exemplo de como grandes corporações podem fazer negócios de maneira ética e sustentável.

Essa mudança foi bem recebida por consumidores, acionistas e parceiros, reforçando a posição da Nike como líder no mercado.

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